Morre em acidente ex-assessor de Gabriel Monteiro que prestou depoimento de colete à prova de balas
Morreu na noite deste sábado Vinicius Hayden Witeze, ex-assessor de Gabriel Monteiro, em um acidente de carro na RJ-130, estrada que liga Teresópolis a Nova Friburgo, na região Serrana. Hayden prestou depoimento na última quarta-feira na Câmara de Vereadores do Rio no processo que pode culminar na cassação de Gabriel Monteiro. Vinícius Haydan relatou sofrer ameaças, entrou e saiu da Câmara cercados por seguranças e usando um colete a prova de balas.
De acordo a Polícia Civil, o acidente está sendo investigado pela 110ª DP (Teresópolis). Agentes fizeram uma perícia no local e as primeiras informações indicam que o motorista perdeu a direção do veículo ao entrar em uma curva da rodovia. Uma sobrevivente relatou aos policiais da delegacia que não houve intervenção de terceiros no acidente.
O delegado Marcio Mendonça Dubugras, titular da 110ª DP, marcou para esta segunda-feira uma perícia no carro para analisar se houve adulteração na parte mecânica, elétrica ou do sistema de alimentação de combustível que pudesse contribuir no acidente. Uma equipe de peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da capital participarão da análise.
O EXTRA apurou que, dentro do carro, foram encontradas cópias do depoimento que Hayden deu na Câmara de Vereadores na última quarta-feira.
Ao depor para a polícia, a passageira do veículo que sobreviveu no acidente descartou que o carro estivesse em alta velocidade já que havia sinais de problemas mecânicos por uso de gasolina de baixa qualidade. Aos policiais, ela ainda descartou qualquer situação anormal afirmou acreditar que o acidente foi causado pela soma de três fatores: o desconhecimento da via, a escuridão e a sinalização precária da estrada.
Em suas redes sociais, Gabriel Monteiro disse lamentar a morte do ex-assessor. O vereador também acusou Vinícius Hayden de forjar provas contra ele:
“Quem me conhece sabe que não desejo mal a ninguém. Meu ex-assessor que tinha sido pego oferecendo 600 mil reais a outro assessor para forjar provas contra mim. Que foi flagrado junto com o 02 da máfia do reboque. Morreu num acidente. É triste demais. Jamais torceria por esse fim! Após tentarem me forjar em estupros, pedofilias, assédios, e mil outros crimes. Vão falar que eu o matei. De coração, que ele esteja com Deus. Imagino a dor dos seus pais, pessoas maravilhosas.”, escreveu Monteiro.
AO EXTRA Alexandre Isquierdo, presidente do Conselho de Ética da Câmara de Vereadores lamentou o acidente:
— Agora é aguardar a perícia da Polícia Civil, como quando há um acidente de carro com óbito.Lamento a morte, um rapaz jovem que deixa uma filha. Meus sentimentos à família — afirmou.
Relator do processo, o vereador Chico Alencar divulgou uma nota em que presta solidariedade para os familiares e amigos de Hayden:
“Que as circunstâncias do acidente que o vitimou sejam rigorosamente apuradas, inclusive com perícia do veículo que utilizava. O esclarecimento pleno e rápido dessa tragédia também reduzirá os temores de testemunhas a serem ainda ouvidas. As duas primeiras que depuseram no Conselho de Ética, o próprio Vinícius e Heitor, relataram, como é sabido, ter recebido ameaças, inclusive de morte”, afirma o parlamentar.
Depoimentos na Câmara indicam ‘tocaia’
Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio, Vinícius Hayden afirmou que havia uma orientação para investigar parlamentares afim de produzir vídeos que os constrangessem publicamente. O ex-assessor já havia contado à Polícia Civil que integrava um setor de funcionários do vereador criado para investigar pessoas apontadas por Monteiro, com o intuito de produzir vídeos que agradassem seu público e lhes garantisse uma boa monetização. De acordo com Alexandre Isquierdo (União), presidente do Conselho, um dos alvos dessas investigações foi a vereadora e ex-secretaria de Assistência Social Laura Carneiro (PSD):
— Foram depoimentos ricos, robustos e que vão ajudar o relatório final. A testemunha disse que havia a orientação de investigar fatos impactantes para constranger outros vereadores. Não que os vereadores tenham preocupação sobre isso, mas se ocorreu, é no mínimo antiético. Ele queria, supostamente, algo próximo do que foi feito com o coronel Íbis. Com a vereadora Laura Carneiro, havia uma orientação de perseguir, ficar em tocaia, investigar que horas ela saía e entrava na secretaria, para onde e como ela viaja. De certa forma isso nos surpreendeu — afirmara Isquierdo na última quarta-feira.
O ex-assessor já havia contado à Polícia Civil que integrava um setor de funcionários do vereador criado para investigar pessoas apontadas por Monteiro para criar vídeos que agradassem seu público e lhes garantisse uma boa monetização.
Também na quarta-feira, o relator do processo Chico Alencar (PSOL) dissera que a defesa do vereador fez perguntas com o intuito de desqualificar as testemunhas, sem entrar no mérito da investigação:
— Ficou evidenciada a promiscuidade entre a atividade parlamentar e a de youtuber, que é privada. Ambos disseram vir muito pouco à Câmara e não conheciam a atividade interna do gabinete. Trabalhavam muito na casa do vereador. Eles detalharam como foi a produção dos vídeos. Uma palavra que eles usaram frequentemente foi “manipulação ” dos personagens que são contratados para fazer os vídeos — afirmar Alencar.
Ambas as testemunhas desta primeira sessão de depoimentos alegam que estão sendo ameaçados nas redes sociais. Vinícius Haydan, primeiro a depor, entrou e saiu da Câmara de Vereadores cercados por seguranças e usando um colete a prova de balas. Na saída de seu depoimento, Heitor Monteiro falou brevemente à imprensa e disse ter confirmado seu depoimento já prestado no âmbito criminal. Heitor Monteiro trabalhava na edição dos vídeos do vereador, contou ao GLOBO horas após as primeiras denúncias serem divulgadas, que os assessores eram obrigados a “forjar histórias” e que vídeos do político “eram flagrantes preparados”.
— Não posso dar detalhes do depoimento mas reafirmei o que disse na delegacia. Estou recebendo bastante ameaças e estou sendo acompanhado por seguranças. Vou fazer o registro na delegacia — disse.