Mulher conta rotina de estupros, espancamentos e cárcere psicológico em bilhete enviado pelo filho
A coragem de uma mulher de 23 anos veio à tona em uma folha de caderno infantil. Sem telefone, isolada da família e vivendo sob constantes ameaças de morte, ela escreveu um bilhete à escola do filho de cinco anos pedindo socorro. A mensagem, escondida no caderno de recados da criança, revelou uma rotina aterradora de estupros conjugais, espancamentos com pedaços de bambu, cabo de vassoura, ferro e controle absoluto de sua liberdade.
O caso chocante foi registrado pela Polícia Civil em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, no dia 14 de maio, quando a vítima conseguiu comparecer à Delegacia e relatar os abusos que sofria há anos. Segundo o boletim de ocorrência, as agressões começaram no início do relacionamento, quando ela ainda era menor de idade, e se agravaram nos últimos meses.
A mulher contou que era forçada a manter relações sexuais com o companheiro, mesmo contra sua vontade. “Quando ele estava bem, era com carinho. Quando não estava, ele me tratava muito mal. Forçava a relação. Mesmo eu dizendo que não queria, ele fazia à força”, relatou. A denúncia inclui estupros conjugais e episódios brutais de agressões físicas e psicológicas.
A última agressão física ocorreu no dia 1º de maio. Após contar a uma amiga que era agredida, o companheiro tentou obrigá-la a entrar no carro. Diante da recusa, ele a perseguiu e passou a agredi-la com um pedaço de bambu. “Ele saiu correndo atrás de mim e começou a me bater. Tenho marcas nos braços”, disse. Ela também revelou que já foi agredida com cabo de vassoura, ferro e levou um chute no rosto: “Ele me deu uma bicuda no nariz. Saiu sangue”.
Além das lesões, a vítima contou que teve um tufo de cabelo arrancado durante uma agressão. Os fios ensanguentados ficaram dentro do carro onde o ataque aconteceu. “Ele não deixava eu sair de casa nem usar telefone”, disse. Segundo ela, o controle era total: não podia visitar a mãe, sair sozinha ou ter acesso ao próprio celular.
A violência também era financeira. O agressor tomava o cartão do Bolsa Família e fazia os saques por conta própria. “O cartão está com ele. Ele que recebe tudo”, contou a jovem, que por medo de retaliações e das ameaças de morte à sua família, nunca conseguiu fazer a denúncia antes. “Ele falava que, se eu denunciasse, ele ia matar minha mãe, meu pai e meus irmãos”.
Foi então que ela escreveu um bilhete pedindo ajuda e escondeu na mochila do filho. A diretora da escola encontrou a mensagem e acionou imediatamente a polícia. “Escrevi dizendo que ele tinha me batido e que eu não aguentava mais. Pedi ajuda”, relatou a vítima. Uma segunda carta escrita à irmã não chegou a ser entregue, porque o agressor passou a monitorá-la ainda mais.
Ela contou ainda que as agressões ocorriam na frente dos dois filhos do casal, de cinco e três anos. “Meus filhos viam tudo. Estavam em casa quando ele me batia”.
O homem foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. A mulher e os filhos estão agora em segurança, sob proteção. A Delegacia de Defesa da Mulher acompanha o caso e a investigação segue em andamento.
