Jovem morre após contrair bactéria ‘comedora de carne’ em Ubatuba e caso levanta alerta sobre esgoto em praia imprópria
A morte de um marinheiro de 30 anos por fascite necrosante — infecção grave popularmente conhecida como causada por “bactéria comedora de carne” — causou comoção e gerou protestos em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo. O pai da vítima, Domício Silvestre Gomes, foi à Câmara Municipal pedir providências e denunciar o que considera uma tragédia anunciada: o despejo de esgoto in natura nos rios que deságuam no mar.
Segundo Domício, seu filho começou a sentir os sintomas no dia 22 de abril, procurou atendimento na Santa Casa de Ubatuba no dia 25, retornou no dia 27 e, no dia seguinte, não resistiu. O jovem trabalhava em uma marina na praia do Perequê-Mirim, uma das regiões mais afetadas pela poluição hídrica no município. “A Sabesp está jogando esgoto dentro do rio. Quantas pessoas mais vão precisar morrer para que alguém tome providência?”, desabafou o pai durante a sessão da Câmara, visivelmente abalado.
A praia do Perequê-Mirim, onde o marinheiro exercia suas atividades, esteve imprópria para banho em nove das 19 semanas analisadas pela CETESB em 2024. No ano anterior, o local ficou com status de balneabilidade inadequada em nove das 52 semanas. O principal agente poluidor é o esgoto doméstico sem tratamento, que pode carregar microrganismos responsáveis por infecções severas como a fascite necrosante.
Em nota, a Sabesp lamentou a morte e afirmou estar comprometida com a ampliação do saneamento básico na cidade. No bairro Perequê-Mirim, apenas 73% da área conta com rede coletora de esgoto. A empresa informou que está investindo R$ 45,7 milhões em obras de saneamento na região, com previsão de entrega até 2026. Em todo o município, os investimentos devem alcançar R$ 593 milhões até 2029.
A CETESB, responsável pelo monitoramento da qualidade das praias, foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
A fascite necrosante é uma infecção rara, porém extremamente agressiva, que destrói os tecidos sob a pele e pode se espalhar rapidamente pelo corpo. Geralmente causada por bactérias como as do gênero Streptococcus, ela atinge com mais facilidade pessoas com baixa imunidade. O tratamento inclui antibióticos de uso intensivo e, em muitos casos, cirurgia para retirada dos tecidos necrosados.
Dados do IBGE mostram que, em Ubatuba, 58,26% dos domicílios — o equivalente a mais da metade da população estimada em 54.171 habitantes — ainda vivem sem acesso adequado à coleta e tratamento de esgoto. A morte do jovem marinheiro reacende o debate sobre a urgência de políticas efetivas para conter a degradação ambiental e os riscos à saúde pública na região.
