Três Décadas de Inovação e Precisão: A Jornada Singular da Agência Mind, com Alexandre Correa Lima
Celebrando 30 anos de história, a Agência Mind, sob a liderança de Alexandre Correa Lima, se consagra como um exemplo notável de inovação e adaptação em um mercado que está em constante evolução. Fundada em um contexto desafiador, longe dos grandes centros consumidores e especializada em um nicho específico, a empresa, guiada por Lima, superou adversidades para se estabelecer como uma referência nacional em pesquisa de mercado.
Nesta entrevista exclusiva, exploramos as origens humildes da Mind, sua evolução de produtora de jingles para rádio até se tornar uma agência de pesquisa com um portfólio diversificado que atende a uma ampla gama de setores. Além disso, discutimos os pilares que sustentam sua metodologia de pesquisa reconhecida por sua confiabilidade e precisão, e como a empresa, sob a visão de Lima, navegou pelas mudanças no cenário das pesquisas eleitorais, adaptando-se às novas tecnologias e às transformações no comportamento do eleitorado brasileiro. A história da Mind é uma prova do poder da experiência, do conhecimento transdisciplinar e da importância de manter uma perspectiva humilde e aberta ao aprendizado contínuo, elementos que Alexandre Correa Lima valoriza profundamente.
Fale um pouco sobre a história da Mind e como foi chegar até aqui?
A Mind completou 30 anos no ano passado, e quando a gente olha em retrospectiva parece quase impossível que a gente tenha chegado até aqui, 30 anos depois, passando por tudo que passamos e com a ousada decisão de prestar um serviço de tanta especificidade fora das capitais e com alguma distância dos principais centros consumidores de serviços especializados. Hoje a gente presta serviços para todo o Brasil, e de diversos segmentos de mercado, indústrias, agronegócio, setor educacional, financeiro, mídia etc.
Quais são os elementos-chave que tornam a metodologia de pesquisa da Agência Mind confiável e precisa ao longo das décadas?
A gente começou produzindo jingles para rádio, entre 1992 e 1993, e logo estávamos também fazendo pesquisas de mercado e audiência, como uma forma de aumentar o portfólio e também de poder prestar um melhor assessoramento aos clientes que contratavam nossos serviços. Apesar de ser uma decisão um pouco inusitada à época, jamais teríamos chegado aonde chegamos se a gente não tivesse essa mistura única, de um olhar mais criativo, quase publicitário, somado a um olhar mais racional e analítico. Então eu acho que ao longo das décadas a gente foi refinando o processo, mas sem ficar muito preso à “caixinha da pesquisa”. Acho que esse olhar multidisciplinar acaba sendo um traço distintivo nosso, além dos 30 anos de estrada e milhares de pesquisas já feitas. O bom de uma empresa com muita experiência é que ela não precisa fazer “experiência” com o dinheiro do cliente. Já acertamos, erramos, caímos, aprendemos, e tudo isso acaba se incorporando ao nosso repertório ao longo dos anos. Mas além de experiência e de um olhar transdisciplinar, a gente também tem o diferencial de sermos regionais, a gente entende melhor as características de cidades médias e pequenas, porque a gente vive essa realidade, a proximidade é maior do que a de alguém que tenta decifrar uma pequena cidade do Vale instalado no trigésimo oitavo andar de um prédio na Avenida Faria Lima.
Poderia compartilhar algumas das mudanças mais significativas que testemunhou no campo das pesquisas eleitorais ao longo dos anos e como a Agência Mind se adaptou a essas mudanças?
Foram 30 anos de muitas mudanças. Lembro que nos anos 90 a gente tinha um produto muito popular, que eram as pesquisas de boca de urna, a gente divulgava às 17:01 o resultado das eleições, e nosso histórico sempre foi incrível: menos de 1% de desvio médio entre as previsões e os resultados finais. Era um outro mundo, em que o voto era impresso e a contagem manual. Às vezes demorava quatro dias para se ter o resultado oficial de uma eleição. Tivemos muitas mudanças tecnológicas, hoje a gente faz pesquisa com georreferenciamento, com dados sendo enviados em tempo real, via satélite, para nossa central, de maneira mais rápida, segura, rastreável e auditável. E o cidadão brasileiro, seja no papel de consumidor ou de eleitor, mudou muito ao longo desses 30 anos. Temos mais perfis, mais fragmentação, mais volatilidade. Tem sido um desafio cada vez maior interpretar os brasileiros. Gerar números muita gente pode gerar. Mas gerar conhecimento relevante a partir desses mesmos números, é uma dimensão muito mais sofisticada da mesma atividade.
Como a vasta experiência da Mind em pesquisas eleitorais influencia a maneira como vocês interpretam e analisam os dados coletados?
Experiência ajuda muito. São milhares de pesquisas já feitas, de todos os tipos, em tudo quanto é cidade. E apesar da tendência lógica, com esse acervo nas costas, seja ficar um bocado confiante (com o perigo da confiança se transforma em arrogância), a gente aprendeu a amadurecer e enxergar tudo isso com humildade de aprendiz. O passado que vivemos nos dá um grande diferencial, já vimos de tudo, e tudo isso são lições aprendidas, é um doutorado na estrada da vida e do mercado. Mas continuamos com a humildade de saber que o futuro nem sempre será uma reedição do passado, e que temos que saber que todo cenário é único e com algum grau de imponderabilidade. A maior parte dos erros de interpretação vem de alguma forma de arrogância de se imaginar com poderes premonitórios, o que quase sempre impede de termos uma visão mais crítica e aberta das coisas e das possibilidades.
Quais são os desafios únicos enfrentados pela Agência Mind ao conduzir pesquisas para eleições políticas, e como esses desafios foram superados ao longo dos anos?
Apesar das pesquisas eleitorais serem sempre um
bocado controversas (muita gente não acredita nelas, e muitas pesquisas ao longo da história já erraram), o fato é que poucos instrumentos científicos podem se expor de tal maneira ao teste da realidade quanto a pesquisa eleitoral. É uma pesquisa cujo nível de acuracidade pode ser testado na prática, na vida real, no cotejo com as urnas. Poucos trabalhos podem se submeter a um teste de eficiência tão duro e implacável como as pesquisas eleitorais o fazem. Os desafios são inúmeros. Desde capturar a opinião de segmentos mais “difíceis”, como condomínios fechados ou bairros violentos, por exemplo, vencer as objeções dos eleitores que não gostam de política ou que não acreditam em pesquisas, e conseguir fazer a leitura correta de um eleitorado em constante processo de mudança.
Considerando o avanço da tecnologia e das mídias sociais, como a Mind Pesquisas incorporou essas novas ferramentas em suas estratégias de pesquisa eleitoral?
Uma das coisas que mudou com o advento das mídias sociais é que agora a gente pode capturar as opiniões não apenas de maneira ativa (perguntando para as pessoas), mas também de maneira passiva, lendo, assistindo ou observando o que as pessoas espontaneamente postam em suas redes sociais. É um instrumento coadjuvante muito relevante esse monitoramento das redes sociais. Mas ainda faltam elementos para integrar tudo isso numa única plataforma. Por exemplo: eu posso fazer uma pesquisa e descobrir que 10% dos eleitores estão indecisos. Mas se eu pudesse verificar o que esses mesmos indecisos estão dizendo em suas redes sociais, como eles se manifestam em relação a temas sensíveis da vida e da política, talvez eu tenha uma pista relevante de que, apesar de estar indeciso, ele possui muito mais inclinação a votar no grupo B do que no C. Mas essa integração na maioria das vezes não existe, seja pela diferença de plataforma (uma pesquisa a gente faz nas ruas e casas e na outra a gente coleta passivamente nas redes sociais), e sobretudo por conta do justo e necessário sigilo das pessoas, da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), etc. Aliás, eu sinceramente acho que as pessoas devem ter sim o seu direito à individualidade preservado (mesmo que na maioria das vezes às próprias pessoas renunciem a isso divulgando publicamente suas opiniões). A gente tem inúmeros casos de uso indevido de perfis e dados públicos para manipulação da opinião pública, fake news, etc., tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil e em outros países. Então sempre é possível pegar uma ótima ferramenta e usar para um péssimo propósito. Deixemos então as pesquisas, por enquanto, como essa mescla entre um bocado de técnica e um tanto de arte.
Como a Agência Mind mantém a imparcialidade e a objetividade em suas pesquisas eleitorais, garantindo que os resultados sejam precisos e não tendenciosos?
A gente se vê como um laboratório de análises clínicas. Nosso objetivo é fazer a melhor leitura possível do material coletado e não deixar o cliente feliz. Quem tem que deixar o cliente feliz e satisfeito é pizzaria. A nossa missão é fazer a melhor leitura possível do cenário, seja esse cenário bom, mais ou menos ou péssimo para o cliente. Nós somos tão mais úteis quanto mais isentos e livres estivermos para dizer o que precisa ser dito. Aliás eu diria que a gente é muito mais útil apontando onde o cliente (empresas, instituições, candidatos, profissionais) podem melhorar sua performance do que jogando confetes. Além disso, ao longo dos anos fomos impondo algumas regras para aumentar ainda mais nosso distanciamento crítico e independência, como não atender órgãos públicos e não dar exclusividade a nenhum grupo político, medidas comercialmente desfavoráveis, mas que nos dão mais isenção e independência de atuação.
Quais são os critérios que a Agência Mind utiliza para determinar a amostra de suas pesquisas eleitorais, e como esses critérios foram refinados ao longo dos anos?
A gente tenta criar amostras que sejam um retrato da
sociedade, uma miniatura da população que a gente tenta entender, e para isso quase sempre precisamos misturar uma base de dados diversificada, como Censos do IBGE (atualmente um problema, porque o CENSO 2022 ainda não foi divulgado em sua totalidade), PNAD, TSE, pesquisas setoriais, levantamentos de órgãos estaduais, federais ou municipais, além de levantamentos próprios e análises retrospectivas. Não há como se fundamentar em apenas uma fonte sem o risco de introduzir algum tipo de lacuna ou viés.
Você poderia compartilhar exemplos de como as pesquisas da Mind influenciaram campanhas e estratégias ao longo das décadas?
Bom, as nossas pesquisas acabam influenciando estratégias e ações diversas, porque quase sempre elas são feitas para alguma análise de cenário, então a partir dos resultados delas nossos clientes acabam promovendo mudanças. Por exemplo, se fazemos uma pesquisa de satisfação de clientes para uma rede de supermercados, e existe muita reclamação do açougue daquela rede, certamente a pesquisa irá acabar provocando mudanças naquele setor. Se fazemos uma pesquisa eleitoral que diz que um determinado pré-candidato é muito elitizado, ou tem mais dificuldade de voto em segmentos mais populares, isso vai acabar fazendo com que ele busque um vice mais popular, ou que o partido acabe buscando um candidato com maior afinidade popular. Na realidade esse deveria ser o papel da pesquisa. Promover mudanças benéficas a partir do cenário encontrado. Para voltar à analogia do laboratório: se seu exame de sangue aponta que você está com a glicose e o colesterol (ruim) altos, o ideal é que isso sirva para você melhorar seus hábitos alimentares, ingerindo menos açúcar e menos gorduras. A maior frustração é perceber que uma longa pesquisa foi engavetada, e que não serviu para desencadear mudanças importantes onde a pesquisa apontou.
Como a reputação e a experiência de mais de 30 anos da Agência Mind impactam a confiança dos clientes e a credibilidade de suas pesquisas eleitorais?
Reputação é uma coisa que você leva 20 anos para construir e 20 minutos para perder, então é uma construção diária. E o segmento de pesquisa é muito dinâmico e desafiador, no campo das pesquisas eleitorais, mais ainda. É um campo não apenas operacionalmente difícil, mas emocionalmente muito duro também. Você se expõe ao vaticínio público, e existe muita passionalidade, muitas vezes no limite da irracionalidade. Os gregos diziam que ninguém deveria tomar decisões importantes quando estivesse apaixonado, porque a paixão era uma espécie de “doença”, um torpor que impediria a pessoa de pensar fria e racionalmente. Não por acaso, paixão vem do grego Pathos, que deu origem à Patologia, doença. Num Brasil tão polarizado tem sido um desafio cada vez maior. Mas faz 30 anos que a gente tem conseguido. E 30 anos não são 30 minutos nem 30 dias. É uma longa história, cheia de percalços, mas que a gente tem orgulho de contar e olhar a imensa estrada que certamente ainda temos pela frente.
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