Fim da viagem: São Tomé das Letras dá basta nos “brisadeiros” e zera atendimentos por doces alucinógenos
Depois de meses em que turistas saíam da Pirâmide enxergando duendes, conversando com pedras e abraçando árvores por tempo demais, São Tomé das Letras (MG) finalmente vive uma trégua psicodélica. Desde que a cidade resolveu colocar um freio na viagem — e não estamos falando da estrada de terra — nenhum novo caso médico foi registrado por conta dos famosos “brisadeiros” e suas variantes mágicas.
Para quem não conhece, os “brisadeiros”, “brigaconhas”, “brownies mágicos” e outros doces de nomes duvidosos viraram item turístico tanto quanto as grutas e cachoeiras. Só que, ao invés de conexão com a natureza, estavam levando gente direto pro pronto atendimento com sintomas que iam de vômito e diarreia a conversas filosóficas com vaga-lumes.
A coisa ficou tão séria que nos dois primeiros meses do ano, 13 pessoas foram atendidas nos serviços de saúde da cidade. Os relatos incluíam alucinações, confusão mental e gente perguntando onde ficava o portal interdimensional para Varginha.
Foi então que a Vigilância Sanitária, com apoio da Polícia Militar e de moradores já cansados de ver turistas tentando fazer acampamento em cima da Pedra da Bruxa, resolveu agir. Lançaram uma campanha educativa, estilo “Não viaje sem saber o que come” — e não era sobre lactose.
A coordenadora das vigilâncias Thayná Brito, que cresceu na cidade e viu São Tomé evoluir de destino esotérico para rota gourmet dos psicotrópicos, deu o recado: “A cidade sempre teve sua magia, mas quando o turista começa a ver o ET Bilu vendendo cristal, é hora de intervir.”
Em março, a PM apreendeu quase 400 doces e conduziu para uma conversa séria (ou um chá sem cogumelo) dez pessoas. Tudo na paz — ninguém foi preso, mas muita barra de chocolate foi aposentada.
E o resultado foi positivo: ninguém mais apareceu na Unidade de Saúde dizendo que o Pastel de Júpiter pediu pra ele cantar Raul Seixas em tupi-guarani. A cidade voltou a seu estado natural de encantamento — só com cachoeira, neblina e teorias da conspiração sobre OVNIs.
A operação mágica continua, agora com pousadas, lojinhas de incenso e até o pessoal que vende filtro dos sonhos ajudando a espalhar os avisos. A palavra da vez é consciência. Afinal, quem vai pra São Tomé quer paz espiritual, não piriri místico.
A mensagem foi clara: se for experimentar os sabores da cidade, que sejam os de verdade — pão de queijo, cachaça artesanal, e no máximo um docinho… sem viagens interplanetárias.
