Domingo, Junho 8, 2025
Cidades

Morre Rui Noronha Sacramento, médico condenado no Caso Kalume e foragido desde 2024

Foi cremado neste domingo (8), em Taubaté, o corpo do médico Rui Noronha Sacramento, um dos profissionais condenados no emblemático Caso Kalume, escândalo nacional que revelou um esquema de remoção ilegal de órgãos nos anos 1980. Rui estava foragido desde outubro do ano passado, quando teve a prisão decretada pela Justiça. Ele tinha histórico de problemas cardíacos, mas as circunstâncias da morte não foram oficialmente informadas.

O velório ocorreu pela manhã no Memorial Sagrada Família, onde também foi realizada a cremação. Com a morte, o processo criminal contra Rui Noronha será extinto, conforme determina a lei.

Nos últimos oito meses, Rui é o terceiro personagem central do Caso Kalume a falecer. Em outubro de 2024, morreu o médico Pedro Henrique Masjuan Torrecillas, também condenado no processo. Já em janeiro deste ano, faleceu Roosevelt de Sá Kalume, o médico que denunciou o esquema e deu nome ao caso.

O Caso Kalume veio à tona em 1987, quando Roosevelt, então diretor da Faculdade de Medicina de Taubaté, denunciou ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) que colegas médicos participavam de um programa clandestino de retirada de rins de pacientes ainda vivos para transplantes. Os fatos remontam a 1986, no antigo Hospital de Saúde Infantil e Comunitária (Hosic), atual sede do Hospital Regional.

A investigação, que se arrastou por quase uma década, concluiu que quatro médicos estavam envolvidos nas mortes de quatro pacientes — José Miguel da Silva, Alex de Lima, Irani Gobo e José Faria Carneiro. Perícias do IML indicaram que os prontuários apresentavam falhas e que os diagnósticos de morte encefálica eram inconsistentes. Em um dos casos, constatou-se atividade intracraniana incompatível com a morte cerebral.

O julgamento ocorreu apenas em 2011. Um dos acusados, Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, já havia falecido em maio daquele ano. Os demais — Rui Sacramento, Pedro Torrecillas e Mariano Fiore Junior — foram levados a júri popular e condenados a 17 anos e 6 meses de prisão por homicídio doloso. Posteriormente, a 6ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP reduziu a pena para 15 anos.

Durante o júri, uma enfermeira relatou ter presenciado um dos médicos enfiando um bisturi no peito de um paciente ainda consciente, aumentando a comoção em torno do caso.

Apesar das condenações, os três médicos continuaram em liberdade ao longo de todo o processo e mantiveram seus registros profissionais ativos. Isso porque, em instâncias administrativas, foram absolvidos das acusações de tráfico de órgãos e eutanásia pelo Cremesp, em 1988, e pelo Conselho Federal de Medicina, em 1993.

Somente em setembro de 2024, após decisão do STF permitindo a execução imediata da pena para réus condenados em júri popular, a Justiça de Taubaté expediu os mandados de prisão contra os três médicos sobreviventes. A ordem foi emitida após pedido da família de Alex de Lima e parecer favorável do Ministério Público. Três dias depois, Pedro Torrecillas morreu na chácara da família, em Indaiatuba.

Agora, com a morte de Rui Noronha Sacramento, apenas um dos condenados do Caso Kalume permanece vivo: o médico Mariano Fiore Junior, que ainda recorre às instâncias superiores para tentar anular a condenação.

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