Domingo, Junho 8, 2025
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Caso Marco Aurélio: 40 anos depois, família do escoteiro desaparecido no Pico dos Marins ainda luta por respostas

No dia 8 de junho de 1985, o escoteiro Marco Aurélio Simon, de apenas 15 anos, desapareceu misteriosamente durante uma trilha no Pico dos Marins, em Piquete (SP). Quatro décadas se passaram, mas a angústia da família permanece intacta. Sem vestígios, sem respostas, sem despedidas. Um dos casos mais emblemáticos e inquietantes do país segue sem solução, desafiando a lógica, a investigação e o tempo.

Naquele dia fatídico, Marco Aurélio fazia parte de um grupo de escoteiros acompanhado por um líder e outros três jovens. Durante a subida à montanha, a 2.400 metros de altitude, um dos colegas se feriu. Marco Aurélio, em um gesto de bravura e solidariedade, decidiu seguir sozinho em busca de socorro. Nunca mais foi visto.

A partir dali, iniciou-se uma das maiores buscas da história do Vale do Paraíba. Durante 28 dias, mais de 300 pessoas vasculharam a área: policiais militares e civis, bombeiros, mateiros e voluntários, todos em um esforço exaustivo que mobilizou o país. Mas nenhum rastro foi encontrado. Nada. Nem roupas, nem objetos, nem um fio de cabelo sequer. Em 1990, as investigações foram oficialmente encerradas. Mas a dor, essa jamais se deu por vencida.

Ivo Simon, pai de Marco Aurélio, hoje com mais de 80 anos, não desistiu. Jornalista experiente, já percorreu dez cidades atrás de pistas, depoimentos e qualquer pista que possa explicar o sumiço do filho. A esperança, diz ele, ainda pulsa. “Quarenta anos são 15 mil dias. E não teve um só dia que eu não pensei no que eu ainda posso fazer. Sempre fui positivo. E se não há uma prova concreta de morte, por que eu deveria acreditar que ele morreu?”, questiona.

Seu argumento é duro como a rocha do Marins: em quatro décadas, nenhum indício material foi encontrado. “Nada. Nenhum fio de cabelo. Nenhuma pegada. Nenhum objeto. Nada. Isso é o que me inquieta”, afirma.

Marco Antônio, irmão gêmeo de Marco Aurélio, compartilha da mesma convicção. A hipótese de fuga é completamente descartada pela família. “Ele jamais fugiria. Não faz sentido. Ele era comprometido, tinha amigos, tinha uma vida estruturada. É impossível imaginar algo do tipo.”

Nos últimos anos, a esperança ganhou contornos de tecnologia. Em 2021, uma nova linha de investigação foi reaberta com base em um depoimento que indicava a possibilidade de o corpo do escoteiro ter sido enterrado em uma casa nas imediações do Marins. A perícia usou equipamentos de escaneamento de solo e cães farejadores. Nada foi localizado.

Em 2022, mais duas áreas de mata foram exploradas, novamente sem sucesso. Em 2023, drones com radares de penetração no solo identificaram cinco possíveis pontos de escavação. Foram retiradas amostras e enviados materiais para análise. Os resultados, mais uma vez, frustraram qualquer expectativa: nada de traços humanos.

Mais recentemente, em abril de 2025, a Superintendência da Polícia Técnico-Científica voltou ao local com sensores de alta precisão e inteligência artificial, na tentativa de refinar a busca. Uma área promissora foi isolada, mas as amostras coletadas não apresentaram material genético compatível.

Apesar do tempo, a investigação segue em andamento. A delegacia de Piquete mantém o inquérito aberto, e o caso de Marco Aurélio segue como um dos maiores mistérios não solucionados do Brasil.

Para a família Simon, a espera continua sendo a única certeza. Uma espera que resiste ao tempo, ao silêncio e ao esquecimento. Um menino de 15 anos saiu para pedir ajuda e jamais voltou. Quarenta anos depois, a pergunta ecoa como o vento nas montanhas do Marins: onde está Marco Aurélio?

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