Mãe sonha com o local e encontra corpo do filho: a dor que guiou a verdade
Em um cenário onde a realidade parece ultrapassar os limites da dor, uma mãe foi conduzida por algo maior do que a lógica humana até o desfecho mais temido: encontrar o próprio filho sem vida, enterrado em uma cova rasa. O corpo de Bruno Henrique, de apenas 16 anos, foi localizado em uma área de mata no bairro Jardim Aeroporto, em Guaratinguetá, após um sonho que sua mãe, Dona Marlene, insiste em dizer que foi um sinal de Deus.
O adolescente estava desaparecido havia quatro dias. Mas a ausência física começou antes, quando o medo passou a ser companheiro inseparável do jovem. Desde que testemunhou a execução brutal de um rapaz chamado Everton dentro de uma lanchonete, dois meses atrás, Bruno vivia assombrado. Era como se uma sentença invisível pairasse sobre sua cabeça. Ameaças chegaram rápido. Motos com homens armados passaram a rondar sua casa. O silêncio imposto pelo medo se misturava à angustiante sensação de que a qualquer momento o pior poderia acontecer.
Mesmo tentando escapar – se abrigando em casas de parentes em cidades vizinhas, como Lorena – Bruno foi vencido por um destino cruel. Voltou a Guaratinguetá dias antes de desaparecer. E não voltou mais para casa.
Foi então que o improvável aconteceu. Dona Marlene, tomada por um pressentimento forte demais para ser ignorado, sonhou com o filho. “Ele me mostrou onde estava. Eu vi tudo. Vi o lugar, vi ele. Acordei tremendo, com a certeza de que precisava ir até lá”, contou, com a voz embargada. Juntou a família e, guiada pela fé e pelo amor incondicional, foi até uma área de mata no Jardim Aeroporto. Lá, como se cada passo tivesse sido escrito pelas mãos de Deus, encontrou um chinelo manchado de sangue. Mais adiante, o horror: o corpo de Bruno, amarrado com arames, parcialmente enterrado, coberto por terra.
A própria mãe fez a identificação. As tatuagens no corpo do filho não deixaram dúvida. O choro que ecoou naquele mato foi o de uma mãe que nunca desistiu de sentir o filho, mesmo quando ele já não podia mais falar.
“Meu irmão sabia demais”, relatou a irmã do jovem à Polícia Civil. E é justamente esse “saber demais” que pode ter custado sua vida. A DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Guaratinguetá agora tenta costurar os fios dessa teia de violência, suspeitando que Bruno tenha sido vítima de um tribunal do crime. A polícia não descarta, inclusive, que o verdadeiro alvo no assassinato dentro da lanchonete fosse ele, e não Everton.
As investigações seguem, com a hipótese de queima de arquivo ganhando força. Há indícios de que Bruno poderia ser peça-chave na elucidação de crimes ligados ao tráfico de drogas. No entanto, antes que pudesse falar ou pedir socorro, foi silenciado.
A área onde o corpo foi achado é considerada dominada por facções. Mesmo assim, a força de uma mãe moveu montanhas, entrou onde muitos não ousam pisar, e encontrou a verdade – ainda que vestida de tragédia.
O que resta agora é o luto. Um luto que pulsa em cada lembrança, em cada silêncio que Bruno deixou, e no olhar de uma mãe que sonhou, buscou… e encontrou.
