Segunda-feira, Abril 21, 2025
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Papa Francisco e Aparecida: uma história de fé, devoção e gestos inesquecíveis no Brasil

Entre os muitos capítulos marcantes da trajetória do Papa Francisco, um deles se entrelaça com a fé do povo brasileiro e tem como palco o coração católico do país: o Santuário Nacional de Aparecida. Foi ali, em 24 de julho de 2013, apenas quatro meses após sua eleição como o primeiro papa das Américas, que Jorge Mario Bergoglio viveu um dos momentos mais simbólicos de seu pontificado — e deixou uma marca eterna entre os romeiros de Nossa Senhora.

Francisco não chegou ao altar como chefe de Estado, mas como devoto. Fez questão de rezar como um simples romeiro, ajoelhado diante da imagem da Padroeira do Brasil, numa manhã chuvosa em que cerca de 200 mil fiéis o aguardavam com orações e emoção. O trajeto até a Basílica foi feito em papamóvel, ladeado pelo cardeal dom Raymundo Damasceno de Assis, então arcebispo de Aparecida. No caminho, o pontífice parou diversas vezes para beijar crianças e saudar o povo que lotava os arredores do Santuário.

Antes da celebração da missa, Francisco teve um momento de recolhimento na Capela dos Apóstolos, atrás do nicho da imagem original. “Quis vir aqui como um devoto, um romeiro”, disse naquela ocasião. Durante a cerimônia, recebeu uma réplica em madeira de Nossa Senhora Aparecida, produzida por um artista do Vale do Paraíba, e em troca presenteou o Santuário com um cálice. Ao se dirigir aos fiéis do altar externo, brincou com o idioma: “Desculpem, não falo ‘brasileiro’. Vou falar em espanhol”.

A visita fazia parte da Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, mas Francisco fez questão de incluir Aparecida no roteiro. Ele chegou de helicóptero após uma breve escala em São José dos Campos e almoçou no Seminário Bom Jesus, onde também descansou antes de retornar à capital fluminense.

A conexão com Aparecida, no entanto, vinha de antes. Em 2007, ainda como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio esteve na cidade por 20 dias, participando da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Ficou hospedado no centro histórico, próximo à Basílica Velha, e foi o responsável por coordenar a redação final do documento de Aparecida, texto que se tornaria referência para o pensamento da Igreja na América Latina — e base teológica do seu pontificado.

Na época da comemoração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 2017, o Papa Francisco não pôde retornar ao Brasil, mas enviou uma carta especial ao Santuário e nomeou o cardeal Giovanni Battista Re como seu representante oficial. “A vida de um Papa não é fácil”, escreveu com afeto, explicando a impossibilidade da viagem, mas reiterando seu carinho pelo povo brasileiro e sua devoção pessoal à Padroeira.

Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. Nos últimos meses, enfrentava complicações respiratórias e havia passado 37 dias internado no Hospital Gemelli, em Roma, entre fevereiro e março. Sua última aparição pública foi no Domingo de Páscoa, na Praça de São Pedro, quando ainda abençoou milhares de peregrinos.

O legado deixado pelo pontífice argentino é imenso. E para os brasileiros, especialmente para os romeiros de Aparecida, permanece viva a imagem de um papa que ajoelhou diante da santa como qualquer filho, e que, em meio a uma multidão ensopada pela chuva, fez o mundo parecer mais próximo da simplicidade, da fé e da compaixão.

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