Serial Killer que Assassinou Oito Crianças Pode Ser Solto no Vale do Paraíba
A cada crepúsculo que se desfaz sobre a Penitenciária de Tremembé II, o passado sombrio de um dos mais cruéis assassinos em série do Brasil volta a assombrar. Douglas Baptista, hoje um idoso de 72 anos, carrega no rosto marcado pelo tempo a história de uma carnificina que aterrorizou a Baixada Santista entre 1992 e 2003. Conhecido como o “Maníaco de São Vicente”, ele foi condenado pelo assassinato de oito crianças, mas agora, a Justiça pode abrir as portas da cela e lançá-lo de volta à sociedade.

O Caçador de Anjos
Baptista não escolhia suas vítimas ao acaso. Suas presas eram meninos e meninas entre cinco e doze anos, sempre de famílias humildes, sempre vulneráveis. Ele se aproximava como um amigo, um tio bondoso que trazia presentes e promessas de passeios inesquecíveis. Mas o destino dessas crianças era sempre o mesmo: o silêncio profundo das águas. Rios, manguezais, mar aberto — suas sepulturas líquidas.
Em ao menos um dos casos, as investigações revelaram que antes da morte veio o horror: abuso sexual, o último ato da perversidade antes da escuridão definitiva.
O Passeio no Barco e o Natal de Sangue

A tarde de 20 de outubro de 1997 começou como qualquer outra no bairro Parque São Vicente, em São Vicente. Dentro de casa, a pequena Priscilla Elias Inácio, de apenas 11 anos, cuidava do irmão mais novo enquanto a mãe estava ausente. Em algum momento, alguém bateu à porta. Priscilla abriu e desapareceu. O desespero de Carmen Lúcia Elias, sua mãe, virou notícia nos jornais, mas a resposta que tanto buscava só viria anos depois, na forma do pior pesadelo: sua filha havia sido mais uma vítima do “Maníaco de São Vicente”.

Douglas Baptista, um rosto familiar, alguém a quem as crianças chamavam de “tio”, escondia sua monstruosidade por trás da amizade com as famílias. A confiança foi a chave de sua armadilha. Naquela tarde, com a naturalidade de quem já sabia exatamente como agiria, ele convidou Priscilla para pescar. A menina aceitou, e chegando ao barco, ele amarrou suas pernas e a levou até alto-mar, onde jogou a criança na água e assistiu enquanto ela se afogava. Ele chegou a confessar às autoridades que teria matado pelo menos outras sete crianças com o mesmo modus operandi. O delegado que acompanhou o caso disse, no inquérito policial, que Douglas admitiu sentir prazer ao ver as crianças se debatendo na água até morrer.
Em outro caso, foi na noite mágica de 25 de dezembro de 2003 que a tragédia alcançou seu auge. Nathaly Jenifer Ribeiro e Najila de Jesus, ambas com cinco anos, desapareceram em São Vicente. Era para ser uma noite de festa, de risos infantis embalados pelo tilintar dos copos dos adultos. Mas quatro dias depois, seus corpos foram encontrados boiando no Rio Mambu, em Itanhaém. Mãos e pés atados. O Papai Noel não veio — quem chegou foi a polícia, com perguntas sem respostas e um medo crescente no ar.
Na época, ninguém imaginava que o assassino já era um fantasma conhecido. Douglas Baptista caminhava entre os vivos, livre, predador à espreita.
O Xadrez da Justiça
O cerco começou a se fechar em 2004, quando Baptista foi preso pela primeira vez. Confessou, mas faltavam provas. As engrenagens da Justiça, enferrujadas, permitiram que escapasse. Em 2013, a história se repetiu. Condenado pelo assassinato de Fabiana dos Santos, ficou pouco tempo trancafiado. Saiu pela porta da frente, como se sua ficha criminal fosse limpa, como se os túmulos das crianças nunca tivessem sido violados.
Foi preciso que a morte lhe cobrasse mais um tributo para que a polícia, enfim, cravasse o último prego em seu caixão jurídico. Em dezembro de 2015, capturado em Praia Grande, Baptista não teve mais para onde correr. Confessou a matança. O Brasil conhecia, então, a extensão do pesadelo.

Mas agora, eis que ele ressurge. Não em novos crimes — ainda não. Mas na sombra da lei, na brecha do tempo, na possibilidade de que, por ser um idoso, o “Maníaco de São Vicente” receba o benefício de cumprir sua pena em casa. Um assassino de oito crianças, um demônio de carne e osso, sendo contemplado pelo sistema que tantas vezes falhou em proteger suas vítimas.
A Indignação dos Sobreviventes
As famílias das vítimas veem o passado bater à porta. O temor de cruzar com Douglas Baptista em uma rua qualquer do Vale do Paraíba já não é uma paranoia — é uma possibilidade real. O mesmo sistema que hesitou em condená-lo agora cogita libertá-lo. Se o tempo passou para ele, passou também para quem o perdeu. Mas justiça não é questão de idade, é questão de princípio.
O destino de Baptista está nas mãos do judiciário, e, para os que carregam a memória dos pequenos anjos que ele destruiu, uma única pergunta paira no ar: vai mesmo se repetir a tragédia de deixá-lo solto?